SASE: A nova abordagem para segurança e conectividade

Nos últimos anos, o cenário de TI nas empresas brasileiras passou por transformações profundas. A adoção do trabalho remoto e híbrido disparou, com profissionais se conectando de casas, cafeterias e até supermercados – 92% dos executivos relatam que seus funcionários usam múltiplas redes para acessar sistemas corporativos.  

Essa dispersão geográfica ampliou a superfície de ataque e complicou o trabalho das equipes de segurança: não por acaso, seis em cada dez líderes de cibersegurança globalmente (50% no Brasil) enfrentaram incidentes como malware, phishing ou vazamento de dados no último ano.  

Diante desse cenário, as empresas se veem desafiadas a proteger usuários e dados distribuídos sem prejudicar a conectividade ou a produtividade. É aqui que ganha força uma nova abordagem arquitetural, pensada para os tempos de nuvem e trabalho em qualquer lugar, capaz de unificar segurança e rede de forma inteligente. Impulsionado pela aceleração da digitalização e pela necessidade de defesa avançada em ambientes corporativos, o modelo SASE (Secure Access Service Edge) vem crescendo exponencialmente e se consolidando como resposta a esses desafios.  

Trata-se de uma arquitetura que reúne serviços de segurança e de conectividade entregues pela nuvem, concebida justamente para suportar operações distribuídas. Projeções de mercado indicam a rápida adoção dessa abordagem: o Gartner previu que até 2024 pelo menos 40% das empresas terão uma estratégia explícita de SASE, e até 2025 cerca de 80% das organizações deverão unificar acesso a web, serviços em nuvem e aplicações privadas sob uma arquitetura SASE ou SSE.  

Em paralelo, investimentos não param de crescer – estimativas apontam que o mercado global de soluções SASE pode atingir US$ 22,89 bilhões até 2028, com taxa composta de crescimento anual superior a 20%.  

Esse movimento reflete a urgência em simplificar a infraestrutura de TI e reforçar a segurança sem abrir mão do desempenho. Mas, afinal, o que é exatamente o SASE e como ele funciona? 

SASE: integração de segurança e conectividade em uma única arquitetura

Conforme definido pelo Gartner, a arquitetura SASE combina recursos de rede de longa distância com serviços de segurança de rede em uma única oferta entregue na nuvem. Em essência, SASE é a convergência de SD-WAN (rede de longa distância definida por software) – responsável por conectar usuários e filiais de forma otimizada – com uma suíte abrangente de segurança em nuvem.  

Essa suíte integra múltiplas funções antes tratadas por produtos isolados: Secure Web Gateway (SWG) para filtragem de tráfego web, Cloud Access Security Broker (CASB) para controle de acesso a aplicativos em nuvem, Firewall as a Service (FWaaS) protegendo o tráfego de rede e Zero Trust Network Access (ZTNA) assegurando acesso por meio de autenticação forte e políticas contextuais de “confiança zero”.  

Todos esses componentes operam de forma unificada, geralmente sob um mesmo sistema operacional de segurança com agentes padronizados – o que permite segurança consistente, controle granular e gerenciamento centralizado em toda a malha corporativa.  

Um dos princípios centrais do SASE é trazer a política de segurança para mais perto do usuário, na chamada borda de serviço. Em vez de rotearmos toda a conexão de um escritório remoto até um data center central apenas para aplicar filtros e inspeções, o SASE aproveita a infraestrutura global em nuvem do provedor para aplicar políticas no ponto mais próximo de onde o usuário ou dispositivo está se conectando.  

Assim, alguém trabalhando em home office ou acessando um SaaS em viagem recebe o mesmo nível de proteção que teria dentro da rede da empresa – só que sem a penalidade de desempenho de um backhaul até a matriz. A identidade do usuário ou dispositivo e o contexto da conexão tornam-se a base das decisões de segurança, com avaliação contínua de risco durante cada sessão.  

Essa abordagem possibilita aplicar controles de acesso dinâmicos e específicos para cada sessão, garantindo que independentemente de onde estejam usuários, aplicações ou dados, o acesso ocorra de forma segura e conforme as políticas corporativas definidas.  

Em termos práticos, adotar SASE significa migrar de um modelo fragmentado de appliances físicos espalhados (firewalls em cada filial, proxies web separados, VPNs tradicionais) para uma plataforma única na nuvem, que entrega todos esses serviços de segurança já integrados à conectividade. Por exemplo, fornecedores líderes disponibilizam PoPs (pontos de presença) globais onde todo o tráfego de filiais e usuários remotos é autenticado, inspecionado e encaminhado pelos melhores links.  

O resultado é uma arquitetura muito mais simplificada: uma única plataforma de nuvem abrange funções de SD-WAN segura, ZTNA, CASB, FWaaS, SWG, etc., funcionando de maneira orquestrada.  

Para as equipes de TI, isso representa um grande alívio em termos operacionais – sai de cena a necessidade de configurar e gerenciar múltiplos sistemas díspares, entrando um console unificado onde políticas de acesso, filtros e configurações são definidos uma vez e aplicados globalmente.  

Benefícios do modelo SASE para ambientes distribuídos

A adoção do SASE traz uma série de benefícios estratégicos, especialmente para empresas com ambientes distribuídos, múltiplas filiais ou força de trabalho híbrida.  

Um dos ganhos mais imediatos é a redução da complexidade e dos custos operacionais: em vez de adquirir e manter diversos equipamentos e softwares de segurança pontuais, a organização passa a contar com uma única plataforma integrada, diminuindo drasticamente o número de produtos que a equipe de TI precisa atualizar e suportar.  

Essa consolidação não só gera economia (menos contratos distintos e hardware especializado) como também simplifica a infraestrutura de TI, liberando tempo dos profissionais para focar em iniciativas estratégicas ao invés de lidar com integrações manuais entre ferramentas diferentes.  

Outro benefício claro é a centralização das políticas e visibilidade unificada. Com o SASE, os controles de segurança deixam de ficar dispersos em dispositivos isolados para serem gerenciados de forma central na nuvem. Assim, a empresa consegue aplicar as mesmas regras de acesso e proteção para todos os usuários e locais de maneira coerente.  

As equipes de segurança passam a enxergar toda a atividade de rede (seja de um usuário no escritório, em casa ou conectado via 4G) através de um painel único, com visibilidade consistente do que está acontecendo.  

Isso melhora a postura de conformidade e diminui os riscos de lacunas de segurança, já que nenhuma filial fica “esquecida” fora das políticas globais. Além disso, a administração centralizada reduz erros de configuração e garante respostas mais rápidas a incidentes – afinal, a TI pode isolar uma ameaça ou ajustar uma política em tempo real e essa mudança propaga-se instantaneamente para toda a organização.  

Do ponto de vista de desempenho e experiência do usuário, o SASE também se mostra vantajoso. Ao permitir que tráfego de internet e acesso a aplicações em nuvem seja feito localmente (através do ponto de presença mais próximo) em vez de voltar ao data center central, a latência é reduzida e o acesso torna-se mais rápido e direto.  

Tecnologias de otimização embutidas no SD-WAN avaliam continuamente a melhor rota para cada aplicação, realizando steering inteligente do tráfego. Isso significa que mesmo um funcionário remoto, ao acessar uma aplicação corporativa ou serviço SaaS, desfruta de desempenho otimizado – muitas vezes melhor do que teria usando VPN tradicional. Em uma pesquisa de mercado, empresas que implementaram SASE reportaram melhoria significativa na conectividade de trabalho remoto e no desempenho de segurança, superando até suas expectativas iniciais.  

Ou seja, além de proteger, a solução pode aprimorar a agilidade da rede, entregando uma experiência mais fluida aos usuários finais, sem os engasgos comumente associados a túneis VPN congestionados ou backhauls longos. Importante destacar também a contribuição do SASE para viabilizar modelos de Zero Trust de forma ampla.  

Pela sua própria concepção – com autenticação contínua e aplicação de políticas baseada em identidade e contexto – o SASE permite remover suposições de confiança implícita na rede. Cada conexão é tratada como não confiável por padrão, exigindo verificação de usuário, dispositivo e postura de segurança antes de conceder acesso.  

Assim, mesmo se um colaborador estiver fora do perímetro corporativo, a sessão dele será verificada e protegida como se estivesse dentro – garantindo proteção consistente independentemente de o usuário estar dentro ou fora da rede da empresa.  

Essa abordagem diminui drasticamente as brechas para invasores que exploram credenciais comprometidas ou dispositivos desatualizados, já que o sistema inspeciona tudo (inclusive conteúdo malicioso oculto, graças à inspeção completa de tráfego integrada) e aplica políticas adaptativas conforme o nível de risco.  

O SASE habilita a filosofia Zero Trust na prática, sem sacrificar a usabilidade. Por fim, vale mencionar a escalabilidade e resiliência que uma arquitetura SASE bem implementada proporciona. Por ser baseada na nuvem, adicionar uma nova filial ou um lote de novos usuários é um processo ágil – geralmente basta provisionar políticas para eles na plataforma, sem necessidade de instalar vários appliances físicos.  

A infraestrutura distribuída dos provedores SASE também traz alta disponibilidade: se um ponto de presença estiver indisponível ou um link principal cair, o tráfego é automaticamente redirecionado por rotas alternativas, garantindo continuidade de serviço. Além disso, muitos fornecedores incorporam redes globais robustas (com múltiplos data centers regionais) e recursos avançados de correção de rotas, o que torna a conectividade mais resiliente a falhas e otimizada contra congestionamentos.  

Para as empresas, isso se traduz em menos downtime e uma entrega consistente de aplicações críticas em qualquer circunstância. Dado que a dependência de serviços em nuvem e Internet só cresce, essa robustez arquitetural do SASE é um diferencial importante para manter o negócio sempre online e protegido. 

Cisco e o SASE: um exemplo prático de implementação integrada 

Diversos fabricantes de tecnologia abraçaram o conceito SASE e vêm desenvolvendo soluções para entregá-lo. Um exemplo de destaque é a Cisco, cuja abordagem ilustra de forma concreta os benefícios do SASE para o mundo corporativo (incluindo no contexto brasileiro). Reconhecida como líder em redes de longa distância (SD-WAN) e com um portfólio completo de segurança de ponta a ponta, a Cisco uniu essas expertises para oferecer uma solução SASE integrada.  

Na prática, isso significa combinar o Cisco SD-WAN – tecnologia que conecta filiais e usuários remotos com alta performance – com a plataforma de segurança em nuvem Cisco Umbrella, que provê filtragem de URL, firewall, CASB, segurança DNS e outras proteções através da nuvem.  

Essa convergência de rede e segurança permite que as empresas adotem SASE utilizando componentes já consagrados: por exemplo, um roteador Cisco SD-WAN em cada site encaminha o tráfego diretamente para a nuvem da Cisco, onde o Umbrella aplica as políticas de segurança (bloqueando ameaças web, controlando acesso a apps na nuvem, inspecionando conteúdo, etc.) de forma centralizada.  

Adicionalmente, a Cisco incorpora mecanismos de Zero Trust com soluções como o Cisco Duo, responsável por autenticação multifator e verificação de dispositivos, garantindo que apenas usuários legítimos em dispositivos confiáveis acessem os recursos corporativos. Todo esse ambiente pode ser gerenciado via consoles unificados – como o dashboard do Cisco Meraki ou o Cisco vManage – simplificando drasticamente as operações de TI.  

A estratégia SASE da Cisco também foca em manter alto nível de desempenho e visibilidade. Uma vez que a empresa possui uma infraestrutura global e investimentos em observabilidade de rede, recursos como o Cisco ThousandEyes (plataforma de monitoramento de experiência digital adquirida pela Cisco) são integrados à solução. Isso permite que a TI tenha visibilidade ponta a ponta do tráfego, identificando gargalos seja na última milha do usuário ou em rotas internet, e automaticamente otimizando caminhos para garantir a melhor performance possível.  

Ou seja, além de unificar segurança e conectividade, a Cisco busca assegurar que o usuário final tenha uma experiência “transparente”, mesmo estando sob várias camadas de proteção. Cabe notar que a Cisco oferece flexibilidade para adoção do SASE em diferentes ritmos: empresas podem optar por uma solução all-in com todos os componentes Cisco gerenciados de forma central (um SASE de fornecedor único, com vantagens como integração nativa e operação simplificada), ou integrar serviços Cisco específicos em uma arquitetura SASE multinuvem já existente.  

Essa maleabilidade é importante especialmente no contexto brasileiro, onde muitas organizações possuem ambientes heterogêneos – a possibilidade de aproveitar investimentos já feitos (como um SD-WAN ou um CASB em uso) e evoluir gradualmente para o SASE completo é bem-vinda pelos CIOs. Para ilustrar os ganhos práticos, podemos citar o caso de uma grande rede de restaurantes que começou a implementar o SASE com tecnologias Cisco. Inicialmente, a empresa substituiu roteadores legados por dispositivos Cisco Meraki SD-WAN e integrou a segurança de borda usando o Cisco Umbrella. Como resultado, as equipes de rede e segurança passaram a descobrir ameaças de forma proativa e coordenar respostas instantaneamente em todas as operações, graças à visibilidade unificada e à automação entre o SD-WAN e a camada de segurança.  

Toda a malha agora é gerenciada via cloud (pelo painel Meraki), o que agiliza mudanças de configuração e reduz o tempo de resolução de problemas. Esse exemplo evidencia como a junção de conectividade inteligente com segurança cloud pode aumentar a agilidade e a postura de defesa de uma organização.  

No Brasil, onde muitas empresas possuem dezenas de filiais dispersas geograficamente e uma adoção crescente de aplicações em nuvem, soluções SASE como as da Cisco têm se mostrado valiosas para reduzir a complexidade da infraestrutura e elevar o patamar de segurança sem comprometer a performance de negócios. Ao contar com um parceiro tecnológico consolidado, as corporações brasileiras também se beneficiam de suporte local e know-how para desenhar a migração para SASE de forma alinhada às necessidades regulatórias e de conectividade regionais. 

Em resumo,  diferentemente das abordagens tradicionais, que muitas vezes impunham trade-offs entre proteção e desempenho, o SASE propõe um caminho onde é possível ter os dois: conexões ágeis, diretas e resilientes, aliadas a uma defesa robusta aplicada em cada acesso, em cada canto da rede.  

Para CIOs e gestores de tecnologia no Brasil, essa arquitetura representa uma oportunidade de revisar modelos legados e ganhar eficiência operacional, sem perder de vista a proteção dos dados e a experiência do usuário final. Em última análise, adotar o SASE é dar um passo em direção à resiliência cibernética e à competitividade em um mercado cada vez mais digital e distribuído – uma evolução arquitetural que alinha a TI às demandas do presente e prepara as organizações para os desafios do futuro.